terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Bob Dylan no Grammy




De todas as premiações cafonas do mundo cultural, a que eu sempre dei menos bola foi o Grammy. Mais do que o Oscar, a premiação do gramofone parece mais uma pura celebração da indústria musical ($$$). A Academia de Artes Cinematográficas ao menos tenta seguir um mínimo critério de meritocracia na premiação, embora totalmente contestável na maioria das vezes. Enquanto isso, o Grammy distribui troféus indiscriminadamente para Ricky Martins, New Kids, Gagas, Biebers e quem quer que seja a bola da vez.

Só que dessa vez algo me fez prestar atenção em um trecho da reprise do Grammy, a presença de Bob Dylan. Em uma performance totalmente afônica, Bob cantou um de seus muitos clássicos "Maggie's Farm" ao lado dos Mumford and Sons e dos Avett Brothers. Porém, mais do que a performance animada dos grupos diante de um velho e rouco Dylan, ali eles estavam diante de uma das únicas figuras da música que fazem jus ao título de lenda viva.

Porém, o que mais me impressionou durante a apresentação foi me lembrar de todas as facetas dos quase 50 anos de carreira de Dylan. Diferentes fases inclusive muito bem retratadas no irregular filme "Eu Não Estou Lá". Pensei no jovem Bob libertário que fugiu de casa, no cantor folk, nas músicas de protesto, na suposta traição pelo flerte com a guitarra elétrica, nos clássicos álbuns Bring It All Back Home e Highway 61 Revisited, nas letras incríveis, no Bob das performances, do rosto pintado e até no homem convertido pela religião e em suas fases menos inspiradas.

Só que em critérios temporais, até mesmo pelo inevitável da vida, a fase mais longa foi a do Dylan já idoso, excêntrico, sem o pouco da voz que tinha e muitas vezes até com um indefectível bigodinho. Isso não quer dizer que ele não tenha feito bons trabalhos nas últimas décadas, mas imagino que os mais jovens que não conhecem seu material antigo não façam nem ideia da importância daquele senhor com uma gaita. Pelo menos, a malfadada premiação serviu para essa justa reverência.

Ao fim da apresentação, a câmera apontou Neil Young (muitas vezes comparado com uma versão canadense do Dylan) aplaudindo de pé.

Eu ainda acredito em música de verdade...

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