quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O Casamento dos Trapalhões



Ganhei de presente da minha irmã um DVD com um filme dos Trapalhões. Típico presente que só quem me conhece mesmo sabe que vai me agradar em cheio. Ela ainda ficou um pouco preocupada ao descobrir que o título "O Casamento dos Trapalhões" não era referente à minha época preferida na cinematografia do quarteto, pois na segunda metade dos 80, seus filmes já vinham com uma enxurrada de Xuxas, Angélicas, Gugus, Conrados e Dominós.


Ao dar o play no filme, sabia que a viagem valeria ao menos pela nostalgia, já que não iria me empolgar da mesma forma que em minha infância nas poltronas do cinema Carioca na Tijuca. Ou seria o América? Bem, quer coisa mais nostálgica do que confundir o nome dos finados cinemas da Praça Saens Peña?


Vamos ao filme em si.

Basicamente, o filme se divide em 2 cenários. As cenas externas em uma ampla fazenda onde viviam os trapalhões e as cenas internas numa representação de "cidade grande" simulada em estúdio. Apesar do filme se tratar de quatro irmãos caipiras (mistério da genética, cacildis), o filme se torna surreal mesmo é com as cenas "urbanas".


Pois bem, o simulacro de cidade parecia uma versão grotesca em luzes azuis do cenário de Blade Runner. Por mais profana que pareça a comparação, no espetacular filme de Ridley Scott aquela cidade futurista tinha grandes letreiros de marcas que se imaginava que dominariam o futuro, como a Pan Am e o Atari, enquanto por aqui se destacavam Ortopé e lâmpadas Osram também no meio de neon e mullets.


Num desses momentos mais surreais da história do cinema mundial, um dos sobrinhos dos Trapalhões, leia-se na prática um integrante do traumático grupo Dominó, está com sua namorada e alguém passa a mão no traseiro dela (sim, isso mesmo). Quando ele vira pra tirar satisfação, descobre que quem fez a gracinha maliciosa foi o então famoso boneco chamado Bocão, que era garoto propaganda das gelatinas Royal.


O mais legal é a mensagem que o filme infantil passa. Que se dane o celibato! Com a mesma facilidade, os Trapalhões e o Dominó arrumam namoradas quase que ao mesmo tempo, sendo que um ainda conta piadas de Joãozinho pra conquistar a gata. Mais fácil ainda é a forma que eles levam todas para o celeiro pra fazer saliências. As moças todas aparecem em trajes mínimos, incluindo as musas teens da época, quais sejam a Luciana Vendramini e a menina do anúncio do primeiro sutiã.

Detalhe para o vilão, que era interpretado pelo José de Abreu, mais saltitante e histriônico do que no discurso de vitória da Dilma. Numa das cenas, ele aponta uma espingarda para um dos Dominós que olha de volta com a expressão de quem está esperando um ônibus.


Apesar dessas observações, eu recomendo que qualquer pessoa que esteja beirando os 30/35 reveja esses filmes. Os Trapalhões eram super talentosos e tinham grande carisma e magnetismo com o público mesmo diante de uma piada ruim. Como não morrer de rir com a risada do Zacarias, a cara do Mussum ao cuidar de sua plantação de "mé" e os tombos do Dedé? Do Didi Mocó nem preciso falar muito. E daí que ele está sem graça hoje? Ele é o cara há 50 anos e liderou um quarteto que mesmo com seu humor politicamente incorreto e anárquico nunca era agressivo...


...exceto quando o Didi dava o grito redentor que antecedia as cenas de briga: PORRADA!!!!!

domingo, 9 de janeiro de 2011

Miss Winehouse

E o Rio de Janeiro, tão carente de shows internacionais, recebe a visita de Amy Winehouse em sua volta aos palcos. Amy consegue conciliar os títulos de diva e junkie ao mesmo tempo. Pena que os preços dos ingressos foram inflacionados pela porção diva de sua persona.

O segundo álbum de Amy "Back To Black" é simplesmente brilhante e coincidiu exatamente com a construção de sua imagem de diva-boneca-de-porcelana-retrô-com-cabelo-de-três-andares, ao mesmo tempo de seu agravamento dos problemas com drogas e sua excessiva perda de peso.

Muita gente considera o álbum anterior "Frank" mais espontâneo e revelador da verdadeira artista. Mas por mais que os executivos do mercado fonográfico tenham operado transformações nela, foi justamente essa sua faceta fake que foi a mais arrebatadora e responsável por uma pequena obra prima de nossa década já finda.

Resta a dúvida se veremos a diva ou a junkie nos palcos cariocas. A julgar pelas críticas do show de Florianópolis, teremos Miss Winehouse comportada, afinada e bebendo água, mas não menos diva.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Agassi e o Crystal Meth

Em meados de 2010, quando o mundo do tênis se concentrava na rivalidade boa praça entre Federer e Nadal, surge a notícia de que o ex-jogador Andre Agassi, um dos melhores e mais carismáticos da história, lançaria uma autobiografia bombástica onde falaria mal de alguns jogadores e revelaria que usou drogas, inclusive durante alguns torneios.

A simples notícia da existência do livro fez com que o mundo do tênis ficasse em polvorosa. Jogadores, ex-jogadores, comentaristas e afins fizeram questão de demonstrar o quão inadequado Agassi parecia com aquilo antes mesmo que houvesse tempo de se folhear o livro. Alguns inclusive falavam em suspensão e perda dos títulos no tapetão.

Eis que alguns meses depois, começo a ler o livro. Me surpreendo desde o início com a forma leve e engraçada com que é escrito. Ponto para Agassi ou para seu ghost writer que consegue fazer que a parte da infância em uma biografia não fique chata. Em termos literários, nada me dá mais sono do que início de biografia que relata a infância do retratado, quem quer que seja.

Sobre os adversários, não o vejo desrespeitoso conforme disseram os primeiros comentários sobre o livro, onde se grifava seu incômodo com a fé ostensiva de Chang e com a chatice de Sampras. O que me incomodou mais pessoalmente foi ele encher de elogios jogadores medianos como Stoltenberg, Gambill e Squillacci, este retratado como um suprassumo do saibro. Enquanto isso, a única referência sobre Guga o descreve como um brasileiro que o venceu em 47 minutos.

Das drogas, Agassi relata sua experiência com o crystal meth como um momento de fraqueza numa fase conturbada da carreira. Não se fala em prolongamento do vício, muito menos de uso de substâncias ilícitas para melhora da performance em quadra. O que assustou mesmo foi a leniência da ATP ao ignorar o resultado positivo de seu exame de doping.



Em sua defesa, Agassi reclama constantemente que seus adversários denunciavam seu suposto favorecimento em torneios e suas contusões forçadas. Sinceramente, eu do outro lado da TV tive essa impressão várias vezes e ela foi reforçada após essa leitura. O próprio controle de doping, que o poupou, veio a detonar jogadores menos carismáticos como Bohdan Ulihrach e Greg Rusedski. Como diz a frase que sempre o perseguiu e incomodou durante sua carreira, "imagem é tudo" no tênis.

A graça do livro reside em sua sinceridade, como nas dezenas de vezes em que Andre repete que detesta o tênis. Por outro lado, muito do seu sucesso comercial foi catapultado pela hipocrisia, especialmente a do mundo tenístico.