terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Domingo, eu vou ao Maracanã...




Qualquer mudança brusca numa paisagem conhecida gera algum tipo de sentimento de ausência em quem tem o hábito de vê-la. Quando a mudança é resultante de uma obra traumática e desnecessária, como a do Estádio do Maracanã, tal sentimento de falta atinge fundo o coração de quem ama o futebol e o Rio de Janeiro.

O Maracanã é mais do que um estádio de futebol. É o chamado Maior do Mundo, por mais que não pare de encolher. É palco de domingos felizes para as torcidas cariocas e para as visitantes também. É onde o carioca chegava no final de tarde voltando da praia ou vindo de casa, chegando a pé ou de trem, pegando fila, sufoco, tão somente por duas horas de cantoria e vibração, com o êxtase do gol da vitória ou com o tortuoso caminho de volta pra casa ouvindo a gozação dos adversários. É onde muitos gritaram de alegria ou choro com gols históricos, como aqueles do Cocada, do Petkovic, do Maurício ou da barriga do Renato Gaúcho.

Para uma criança, era indescritível a passagem pelo túnel que dava acesso para as arquibancadas. Aquela primeira visão do campo, do placar e da torcida adversária a ser xingada, tudo mais ao som do alarido em seu lado da arquibancada numa imensidão de camisas iguais a sua. Na verdade, a emoção se repetia e se multiplicava em cada domingo de jogo, não diminuindo mesmo com o passar para a idade adulta.

Hoje, o Estádio Mário Filho é tão somente um canteiro de uma obra questionável. Um monte de ferro retorcido, areia, cadeiras retiradas, campo rebaixado e, pior, reduzido. Tudo para descaracterizar o Maraca o bastante para sediar a Copa do Mundo. Sempre sonhei em ver uma Copa pertinho de casa (eu não era nascido em 1950), mas ficar pelo menos 3 anos sem Maracanã é um preço alto demais. E isso tudo pra quê? Pra cumprir exigências desnecessárias da Fifa e/ou pra abrir uma porta da grande máquina de lavar pública nacional?

Só sei que continuo cantando: "Domingo, eu vou ao Maracanã". Até porque preciso dar umas corridinhas ali no entorno do estádio...

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

E é tudo verdade

Li o livro Elite da Tropa assim que foi lançado e fiquei ansioso pelo lançamento do filme que estava em produção, o que ocorreu alguns anos depois, com o nome Tropa de Elite. Gostei mais do livro que do filme. Anos depois, foi lançado o filme Tropa de Elite 2. O livro Elite da Tropa 2 veio em seguida. Eu daria um empate técnico entre estes últimos.

Como todos sabem, as obras narram os bastidores da polícia e da política do Estado do Rio de Janeiro. No segundo livro, são narrados episódios relativos às atividades das milícias e às investigações de uma delegacia especializada em crime organizado. O delegado deste distrito policial é um dos autores.

Um dos episódios que mais me chamou a atenção foi o do vazamento de uma operação. O superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro convocou o chefe da Polícia Civil do Estado para comunicá-lo sobre uma operação que seria realizada no dia seguinte. O subchefe também compareceu à reunião. Após meses de investigações, o chefe do tráfico da Rocinha enfim seria preso. Poucos minutos depois da reunião, um policial entra assustado no gabinete e mostra ao superintendente uma gravação do grampo do traficante. O subchefe avisava ao bandido sobre a operação da PF.

Como os autores deixaram claro que alteraram nomes e alguns detalhes das histórias, sempre me questiono até que ponto o fato narrado é verídico. Pois bem, li o livro em novembro de 2010. Eis que nos últimos dias, em fevereiro de 2011, uma operação da Polícia Federal prendeu dezenas de policiais no Rio, dentre eles o ex-subchefe operacional da Civil. Uma das provas da investigação mostrava justamente que ele informou ao chefe do tráfico da Rocinha sobre uma operação para prendê-lo, em 2009. A partir desse vazamento, a PF investigou o delegado e sua quadrilha por quase dois anos para colher provas suficientes e irrefutáveis, dando o bote no momento certo.

Ou seja, por mais assustador e incrível que pareça, é tudo verdade o que diz o livro. A corrupção no Brasil perdeu todos os limites. A crise deflagrada na Polícia Civil nos últimos dias, com diretores e delegados trocando acusações publicamente, em que um deflagra investigações contra o outro por disputa de cargos e revanchismo, gerou a mudança da cúpula da instituição. Aqueles homens bem trajados, com discurso rebuscado e imagem de defensores implacáveis e incorruptíveis da sociedade, perderam a credibilidade dos cidadãos brasileiros, não só dos fluminenses. A cada escândalo policial ou político, percebemos que nos bastidores acontecem coisas que até “eu” duvido.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Bob Dylan no Grammy




De todas as premiações cafonas do mundo cultural, a que eu sempre dei menos bola foi o Grammy. Mais do que o Oscar, a premiação do gramofone parece mais uma pura celebração da indústria musical ($$$). A Academia de Artes Cinematográficas ao menos tenta seguir um mínimo critério de meritocracia na premiação, embora totalmente contestável na maioria das vezes. Enquanto isso, o Grammy distribui troféus indiscriminadamente para Ricky Martins, New Kids, Gagas, Biebers e quem quer que seja a bola da vez.

Só que dessa vez algo me fez prestar atenção em um trecho da reprise do Grammy, a presença de Bob Dylan. Em uma performance totalmente afônica, Bob cantou um de seus muitos clássicos "Maggie's Farm" ao lado dos Mumford and Sons e dos Avett Brothers. Porém, mais do que a performance animada dos grupos diante de um velho e rouco Dylan, ali eles estavam diante de uma das únicas figuras da música que fazem jus ao título de lenda viva.

Porém, o que mais me impressionou durante a apresentação foi me lembrar de todas as facetas dos quase 50 anos de carreira de Dylan. Diferentes fases inclusive muito bem retratadas no irregular filme "Eu Não Estou Lá". Pensei no jovem Bob libertário que fugiu de casa, no cantor folk, nas músicas de protesto, na suposta traição pelo flerte com a guitarra elétrica, nos clássicos álbuns Bring It All Back Home e Highway 61 Revisited, nas letras incríveis, no Bob das performances, do rosto pintado e até no homem convertido pela religião e em suas fases menos inspiradas.

Só que em critérios temporais, até mesmo pelo inevitável da vida, a fase mais longa foi a do Dylan já idoso, excêntrico, sem o pouco da voz que tinha e muitas vezes até com um indefectível bigodinho. Isso não quer dizer que ele não tenha feito bons trabalhos nas últimas décadas, mas imagino que os mais jovens que não conhecem seu material antigo não façam nem ideia da importância daquele senhor com uma gaita. Pelo menos, a malfadada premiação serviu para essa justa reverência.

Ao fim da apresentação, a câmera apontou Neil Young (muitas vezes comparado com uma versão canadense do Dylan) aplaudindo de pé.

Eu ainda acredito em música de verdade...

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Cisne Negro





Sabe quando você ouve falar de um filme que vai estrear em dois mil e muito longe, mas já fica ansioso pra vê-lo? Pois é, certamente isso ocorreu há um tempo quando recebi a notícia da união de dois craques do cinema atual, o diretor Darren Aronofsky e a atriz Natalie Portman, em um filme sobre os conflitos internos de uma bailarina aspirante a protagonista de uma montagem de "O Lago dos Cisnes".


Sem dar nenhuma pista sobre o desfecho da história (vocês nunca encontrarão o menor vestígio de 'spoiler' neste humilde blog), o que eu posso adiantar é que é um Filmaço com F maiúsculo. Mais do que o lado negro de cada pessoa, o filme trata da obsessão, ou melhor, da linha tênue que separa a obstinação da obsessão, a ansiedade do nervosismo extremo e a insegurança da paranoia.


Natalie Portman aparece em outra grande atuação e merecerá cada prêmio que receber. Na pele da bailarina Nina, ela tenta viver os opostos de ser ao mesmo tempo o cisne branco e o cisne negro na montagem de "O Lago dos Cisnes". Curioso é como ela oscilou também entre os cisnes brancos e negros em algumas de suas atuações mais marcantes, como nos filmes "Closer- Perto Demais", "V de Vingança" e em "A Outra", alternando doçura e maldade.


Por sua vez, o diretor Darren Aronofsky se firma como um dos mais legais do nosso 'cinemão' atual, assim como Christopher Nolan e Paul Thomas Anderson. Depois dos brilhantes "Réquiem Para um Sonho", "Pi" e do denso "O Lutador", aqui ele imprime tensão nos mínimos detalhes, como em reflexos de espelho, alergias e gravuras alucinógenas que, na forma de efeitos visuais, se tornam componentes importantes da narrativa.


Vale a pena conferir. Mesmo que seja para entrar na ala dos detratores do filme e questionar a dança, o suspense ou o argumento, mas certamente indiferença é que não será sentida diante dos reflexos e dos diferentes lados do espelho.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O Exemplo do Egito

Finalmente Hosni Mubarak cedeu às pressões e anunciou que vai deixar a presidência do Egito. Em setembro. Ou seja, não satisfeito com mais de 30 anos de poder, ele quer esperar mais alguns meses e sair “pela porta da frente”, após as eleições, e não deposto por uma revolta popular.

No Egito, dois terços da população têm menos de 30 anos. Desses, 90% não têm emprego formal. A população de um dos maiores destinos turísticos do mundo vive na miséria. Não é de se espantar a proporção a que chegaram os protestos. O que mais chamou a atenção do mundo foi o que reuniu cerca de um milhão de pessoas. De certa forma, esse movimento popular veio com um atraso de anos ou até décadas. Foi preciso que outros protestos em países próximos, como a Tunísia, tivessem êxito no início de 2011 para que os egípcios tomassem a decisão de derrubar seu ditador.

E isso está próximo de acontecer. As forças de segurança do país não têm mais como conter a população furiosa. Os militares já confraternizam com os manifestantes, pois sabem que o confronto, além de desfavorável a eles, causaria um grande derramamento de sangue de compatriotas. Já bastam as mortes que ocorreram nos primeiros dias, com números que variam de 75 a 300.

Não acredito que Mubarak resista até setembro. Mesmo com a ajuda militar norte-americana de 1,2 bilhão de dólares por ano, o apoio político da comunidade internacional não veio. Apesar do receio da possível (embora não provável) ascensão de um governo fundamentalista islâmico ou resistente ao Ocidente, o mundo não pode fechar os olhos a um dos maiores movimentos populares das últimas décadas. O Egito, de belíssima História milenar, volta a ser o centro das atenções. Seu povo atraiu nos últimos dias a atenção e a simpatia do mundo. Que o desfecho seja favorável ao povo egípcio e que esse momento histórico sirva de exemplo.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O Casamento dos Trapalhões



Ganhei de presente da minha irmã um DVD com um filme dos Trapalhões. Típico presente que só quem me conhece mesmo sabe que vai me agradar em cheio. Ela ainda ficou um pouco preocupada ao descobrir que o título "O Casamento dos Trapalhões" não era referente à minha época preferida na cinematografia do quarteto, pois na segunda metade dos 80, seus filmes já vinham com uma enxurrada de Xuxas, Angélicas, Gugus, Conrados e Dominós.


Ao dar o play no filme, sabia que a viagem valeria ao menos pela nostalgia, já que não iria me empolgar da mesma forma que em minha infância nas poltronas do cinema Carioca na Tijuca. Ou seria o América? Bem, quer coisa mais nostálgica do que confundir o nome dos finados cinemas da Praça Saens Peña?


Vamos ao filme em si.

Basicamente, o filme se divide em 2 cenários. As cenas externas em uma ampla fazenda onde viviam os trapalhões e as cenas internas numa representação de "cidade grande" simulada em estúdio. Apesar do filme se tratar de quatro irmãos caipiras (mistério da genética, cacildis), o filme se torna surreal mesmo é com as cenas "urbanas".


Pois bem, o simulacro de cidade parecia uma versão grotesca em luzes azuis do cenário de Blade Runner. Por mais profana que pareça a comparação, no espetacular filme de Ridley Scott aquela cidade futurista tinha grandes letreiros de marcas que se imaginava que dominariam o futuro, como a Pan Am e o Atari, enquanto por aqui se destacavam Ortopé e lâmpadas Osram também no meio de neon e mullets.


Num desses momentos mais surreais da história do cinema mundial, um dos sobrinhos dos Trapalhões, leia-se na prática um integrante do traumático grupo Dominó, está com sua namorada e alguém passa a mão no traseiro dela (sim, isso mesmo). Quando ele vira pra tirar satisfação, descobre que quem fez a gracinha maliciosa foi o então famoso boneco chamado Bocão, que era garoto propaganda das gelatinas Royal.


O mais legal é a mensagem que o filme infantil passa. Que se dane o celibato! Com a mesma facilidade, os Trapalhões e o Dominó arrumam namoradas quase que ao mesmo tempo, sendo que um ainda conta piadas de Joãozinho pra conquistar a gata. Mais fácil ainda é a forma que eles levam todas para o celeiro pra fazer saliências. As moças todas aparecem em trajes mínimos, incluindo as musas teens da época, quais sejam a Luciana Vendramini e a menina do anúncio do primeiro sutiã.

Detalhe para o vilão, que era interpretado pelo José de Abreu, mais saltitante e histriônico do que no discurso de vitória da Dilma. Numa das cenas, ele aponta uma espingarda para um dos Dominós que olha de volta com a expressão de quem está esperando um ônibus.


Apesar dessas observações, eu recomendo que qualquer pessoa que esteja beirando os 30/35 reveja esses filmes. Os Trapalhões eram super talentosos e tinham grande carisma e magnetismo com o público mesmo diante de uma piada ruim. Como não morrer de rir com a risada do Zacarias, a cara do Mussum ao cuidar de sua plantação de "mé" e os tombos do Dedé? Do Didi Mocó nem preciso falar muito. E daí que ele está sem graça hoje? Ele é o cara há 50 anos e liderou um quarteto que mesmo com seu humor politicamente incorreto e anárquico nunca era agressivo...


...exceto quando o Didi dava o grito redentor que antecedia as cenas de briga: PORRADA!!!!!

domingo, 9 de janeiro de 2011

Miss Winehouse

E o Rio de Janeiro, tão carente de shows internacionais, recebe a visita de Amy Winehouse em sua volta aos palcos. Amy consegue conciliar os títulos de diva e junkie ao mesmo tempo. Pena que os preços dos ingressos foram inflacionados pela porção diva de sua persona.

O segundo álbum de Amy "Back To Black" é simplesmente brilhante e coincidiu exatamente com a construção de sua imagem de diva-boneca-de-porcelana-retrô-com-cabelo-de-três-andares, ao mesmo tempo de seu agravamento dos problemas com drogas e sua excessiva perda de peso.

Muita gente considera o álbum anterior "Frank" mais espontâneo e revelador da verdadeira artista. Mas por mais que os executivos do mercado fonográfico tenham operado transformações nela, foi justamente essa sua faceta fake que foi a mais arrebatadora e responsável por uma pequena obra prima de nossa década já finda.

Resta a dúvida se veremos a diva ou a junkie nos palcos cariocas. A julgar pelas críticas do show de Florianópolis, teremos Miss Winehouse comportada, afinada e bebendo água, mas não menos diva.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Agassi e o Crystal Meth

Em meados de 2010, quando o mundo do tênis se concentrava na rivalidade boa praça entre Federer e Nadal, surge a notícia de que o ex-jogador Andre Agassi, um dos melhores e mais carismáticos da história, lançaria uma autobiografia bombástica onde falaria mal de alguns jogadores e revelaria que usou drogas, inclusive durante alguns torneios.

A simples notícia da existência do livro fez com que o mundo do tênis ficasse em polvorosa. Jogadores, ex-jogadores, comentaristas e afins fizeram questão de demonstrar o quão inadequado Agassi parecia com aquilo antes mesmo que houvesse tempo de se folhear o livro. Alguns inclusive falavam em suspensão e perda dos títulos no tapetão.

Eis que alguns meses depois, começo a ler o livro. Me surpreendo desde o início com a forma leve e engraçada com que é escrito. Ponto para Agassi ou para seu ghost writer que consegue fazer que a parte da infância em uma biografia não fique chata. Em termos literários, nada me dá mais sono do que início de biografia que relata a infância do retratado, quem quer que seja.

Sobre os adversários, não o vejo desrespeitoso conforme disseram os primeiros comentários sobre o livro, onde se grifava seu incômodo com a fé ostensiva de Chang e com a chatice de Sampras. O que me incomodou mais pessoalmente foi ele encher de elogios jogadores medianos como Stoltenberg, Gambill e Squillacci, este retratado como um suprassumo do saibro. Enquanto isso, a única referência sobre Guga o descreve como um brasileiro que o venceu em 47 minutos.

Das drogas, Agassi relata sua experiência com o crystal meth como um momento de fraqueza numa fase conturbada da carreira. Não se fala em prolongamento do vício, muito menos de uso de substâncias ilícitas para melhora da performance em quadra. O que assustou mesmo foi a leniência da ATP ao ignorar o resultado positivo de seu exame de doping.



Em sua defesa, Agassi reclama constantemente que seus adversários denunciavam seu suposto favorecimento em torneios e suas contusões forçadas. Sinceramente, eu do outro lado da TV tive essa impressão várias vezes e ela foi reforçada após essa leitura. O próprio controle de doping, que o poupou, veio a detonar jogadores menos carismáticos como Bohdan Ulihrach e Greg Rusedski. Como diz a frase que sempre o perseguiu e incomodou durante sua carreira, "imagem é tudo" no tênis.

A graça do livro reside em sua sinceridade, como nas dezenas de vezes em que Andre repete que detesta o tênis. Por outro lado, muito do seu sucesso comercial foi catapultado pela hipocrisia, especialmente a do mundo tenístico.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Melhores Filmes de 2010

Como não poderia ser diferente, vou começar pelo que já está feito, minha listinha de melhores filmes de 2010. A relação já foi divulgada no meu Twitter (@DanielQuintal ) e me fez ouvir coisas do tipo "sério que você acha um filme argentino melhor do que 'A Origem' "?

Deixando o momento xenófobo de lado, vamos a lista:

1. O Segredo dos Seus Olhos
E daí que o Campanella abusa do melodrama e dos clichês como portas e estações de trem? Seu melhor filme conta a história de um amor reprimido dentro de uma repartição judiciária com fortes elementos de suspense rondando a história. Destaque pro plano sequência perfeito de uma perseguição em pleno estádio de futebol durante uma partida Huracán x Racing.

2. A Origem
Como fazer um blockbuster engenhoso (e onírico) que prenda a audiência na trama todo o tempo? Atualmente, Christopher Nolan é um dos únicos que pode conseguir tal feito no cinema. Uma trama cheia de camadas, tótens, referências filosóficas, diferentes tempos e ótimas atuações.

3. Abutres
Mais um argentino e mais um com Ricardo Darín (filme argentino estrelado pelo Darín chega a parecer pleonasmo). Filme envolve personagens podres, exploração do sofrimento alheio e críticas ao serviço de saúde (filme argentino com crítica política e social é o próprio pleonasmo corporificado) que se converge para um último terço com muita ação.

4. Tropa de Elite 2
O desafio da continuação teve resultado plenamente satisfatório em um filme mais denso e menos unidimensional do que o primeiro. E nada como ver um parlamentar corrupto tomando uns tapas do Capitão Nascimento, personagem que endossa Wagner Moura como o ator mais representativo do cinema nacional na última década.

5. Tetro
Após tantos anos, Coppola trouxe uma intrincada e tensa história de família mal resolvida tendo como fundo uma Buenos Aires lindamente fotografada em preto e branco.

6. A Rede Social
Excelente filme em que a engenhosa e milionária ideia da criação do Facebook acaba ficando de pano de fundo para uma história da crise de uma amizade e principalmente sobre sociabilidade, no sentido antigo da palavra.

7. Machete
Um bom trash despretensioso e sanguinário. Revolucionários insurgentes mexicanos conseguiram até democratizar a canastrice. Do monstro sagrado De Niro até o valentão inexpressivo Steven Seagal, todos vestiram a camisa da galhofa

8. Dois Irmãos
Mais um exemplar hermano (literalmente) na lista. Relacionamento entre irmãos na maturidade que abrange o egoísmo e a resignação em seus pólos. Tudo abordado de forma singela e elegante e com toques de humor e melancolia.

9. Ilha do Medo
Scorsese consegue repassar todo o sentimento de claustrofobia e inquietude contando mais uma vez com um DiCaprio fazendo papel conturbado psicologicamente.

10. Uma noite em 67
Pode não ser bom como documentário, mas é um retrato belíssimo de um momento de efervescência da nossa música, mesmo que sufocado em um grande circo de manipulação que era a TV naqueles anos. Já vale pelos registros musicais completos não serem interrompidos por comentários dos entrevistados.

Observações
-Estabeleci como critério de filme de 2010 a data de estreia nos cinemas do Brasil
-Filmes como "Senna" e "Alice" merecem menção honrosa. Tudo bem que todo mundo esperava mais quando soube que o Tim Burton filmaria Alice
-Antes que perguntem, não vi dezenas de filmes que gostaria em 2010, desde "A Fita Branca" até "Scott Pilgrim"