quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Agassi e o Crystal Meth

Em meados de 2010, quando o mundo do tênis se concentrava na rivalidade boa praça entre Federer e Nadal, surge a notícia de que o ex-jogador Andre Agassi, um dos melhores e mais carismáticos da história, lançaria uma autobiografia bombástica onde falaria mal de alguns jogadores e revelaria que usou drogas, inclusive durante alguns torneios.

A simples notícia da existência do livro fez com que o mundo do tênis ficasse em polvorosa. Jogadores, ex-jogadores, comentaristas e afins fizeram questão de demonstrar o quão inadequado Agassi parecia com aquilo antes mesmo que houvesse tempo de se folhear o livro. Alguns inclusive falavam em suspensão e perda dos títulos no tapetão.

Eis que alguns meses depois, começo a ler o livro. Me surpreendo desde o início com a forma leve e engraçada com que é escrito. Ponto para Agassi ou para seu ghost writer que consegue fazer que a parte da infância em uma biografia não fique chata. Em termos literários, nada me dá mais sono do que início de biografia que relata a infância do retratado, quem quer que seja.

Sobre os adversários, não o vejo desrespeitoso conforme disseram os primeiros comentários sobre o livro, onde se grifava seu incômodo com a fé ostensiva de Chang e com a chatice de Sampras. O que me incomodou mais pessoalmente foi ele encher de elogios jogadores medianos como Stoltenberg, Gambill e Squillacci, este retratado como um suprassumo do saibro. Enquanto isso, a única referência sobre Guga o descreve como um brasileiro que o venceu em 47 minutos.

Das drogas, Agassi relata sua experiência com o crystal meth como um momento de fraqueza numa fase conturbada da carreira. Não se fala em prolongamento do vício, muito menos de uso de substâncias ilícitas para melhora da performance em quadra. O que assustou mesmo foi a leniência da ATP ao ignorar o resultado positivo de seu exame de doping.



Em sua defesa, Agassi reclama constantemente que seus adversários denunciavam seu suposto favorecimento em torneios e suas contusões forçadas. Sinceramente, eu do outro lado da TV tive essa impressão várias vezes e ela foi reforçada após essa leitura. O próprio controle de doping, que o poupou, veio a detonar jogadores menos carismáticos como Bohdan Ulihrach e Greg Rusedski. Como diz a frase que sempre o perseguiu e incomodou durante sua carreira, "imagem é tudo" no tênis.

A graça do livro reside em sua sinceridade, como nas dezenas de vezes em que Andre repete que detesta o tênis. Por outro lado, muito do seu sucesso comercial foi catapultado pela hipocrisia, especialmente a do mundo tenístico.

Um comentário:

  1. Se o Agassi jogasse hoje, seria número 5 do ranking na melhor das hipóteses

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